Aqui, a receita feijoada tradicional:
- 1 kg de feijão-preto
- 500 g de carne-seca
- 250 g de lombo de porco salgado
- 1 língua de porco defumada
- 1 pé de porco salgado
- 1 orelha de porco salgada
- 2 rabos de porco salgados
- 800 g de carne fresca de peito bovino
- 1 kg de lombo de porco fresco
- 2 folhas de louro
- 250 g de toucinho magro defumado
- 250 g de costela defumada
- 2 paios
- 300 g de linguiça de porco grossa fresca
- 300 g de linguiça fina fresca
- 3 dentes de alho espremidos
- 4 colheres (sopa) de óleo
- Sal a gosto
Modo de preparo
Na véspera do preparo, ponha o feijão, escolhido e lavado, de molho numa vasilha com água. Faça o mesmo, separadamente, com a carne-seca e o lombo salgado, tendo o cuidado de trocar a água duas vezes. Limpe e lave bem a língua, o pé, a orelha e os rabos de porco. Retire a gordura do peito e do lombo frescos. Cozinhe o feijão em bastante água com o louro e o toucinho. Após uma hora de fervura, ponha as carnes nesta ordem: a língua, a carne-seca cortada em pedaços grandes, o pé, os rabos, a orelha, a costela, o lombo salgado, a carne de peito e o lombo fresco. Por último, os paios e as linguiças cortados em pedaços grandes. Junte água quente em quantidade suficiente para manter as carnes cobertas pelo caldo. Durante o cozimento, retire a espuma que se formar na superfície. Deixe no fogo até o feijão ficar macio. À parte, refogue o alho no óleo e tempere o feijão. Ponha sal. Retire duas conchas de feijão e amasse bem com um garfo. Misture à feijoada e mantenha em fogo baixo até servir.
Corte as laranjas, refogue o arroz e a couve, e veja uma receita deliciosa de farofa com cenoura.
História:
Para uma
terra que nasceu na junção de raças e culturas, a comida mais
famosa por lá só podia ser o resultado de uma grande mistura. O
prato que é herança cultural dos tempos da escravatura, ganhou
tanto a mesa das casas humildes como ar sofisticado nos casarões
mais nobres. Na combinação democrática de ingredientes, a
feijoada, hoje um dos pratos mais populares da culinária brasileira,
é a cara do Brasil.
Na França
eles tem o cassoulet. Na Espanha é conhecida como cozido madrilenho.
Na Itália eles fazem a casserola com grão-de-bico. Moçambique e
Cabo Verde também têm seus próprios jeitos ancestrais de preparar
pratos com feijão. Mas a brasileira foi adaptada da feijoada poveira
e à transmontana, preparadas em Portugal. Uma leva feijão vermelho
e a outra feijão branco. O feijão preto usado no Brasil é de
origem americana. Pela falta de arroz no Brasil Colônia, os
alimentos tinham por base o milho e a mandioca, daí o porquê de
misturar tudo com farinha.
E como
tudo isso foi parar na panela?
Desde
sempre nos ensinaram que os miúdos do porco como pés, orelha, rabo
e outras iguarias eram as carnes menos nobres que sobravam e que os
escravos misturavam com feijão e água, cozinhavam e comiam nas
senzalas. E também por isso a feijoada nacional foi discriminada por
muito tempo por ser "comida de escravo". Mas alguns
historiadores rebatem essa versão e dizem que para os senhores um
escravo desnutrido e maltratado dava prejuízo e por isso eles comiam
bem e tinham mais de três refeições diárias. Em 1889 já havia
registros de açougues que vendiam linguiças, carneiro, rins, miolos
e língua de boi para os administradores dos grandes casarões. A
carne de bois e porcos nesse período eram divididas em partes nobres
para as fazendas, quando não tinham seu próprio abatedouro, miolos
para os hospitais e coração e tripas para um prato que era vendido
nas ruas, o Angu a Baiana, que também levava o azeite-de-dendê.
Com o
passar do tempo a forma de cozinhar o feijão foi ganhando adaptações
e a mistura de "restos" de carne feita pelas negras que
trabalhavam e cozinhavam na casa grande não é totalmente inverdade.
Em 1833 o restaurante do Hotel Théâtre em Recife servia às
quintas-feiras um prato que era, segundo a crítica de um jornal da
época, "os fragmentos do jantar da véspera, ao que chamam
enterro dos ossos [...] Lançam-se em uma grande panela ou caldeirão
restos de perus, de leitões assados, fatacões de toucinho e de
presunto, além disto bons vassalhos de carne seca vulgo ceará, tudo
vai de mistura com o indispensável feijão". Anos depois o
"enterro dos ossos", a pedido dos clientes era servido às
terças e quintas em alguns dos restaurantes das grandes capitais. Já
em 1905 o G.Lobo, um restaurante no centro do Rio de Janeiro, vendia
uma 'feijoada brazilleira completa' com arroz branco, laranja em
fatias, couve refogada e farofa. Da capital do Brasil na época, o
prato ganhou adeptos em outras cidades em Minas Gerais e São Paulo.
Com as
festas promovidas pelas mães de santo nos terreiros e morros, a
feijoada ficou conhecida entre todas as camadas sociais no final do
século XIX e início do XX. Num texto de 1867, o escritor Joaquim
José de França Junior, diz: "A palavra - feijoada, cuja origem
perde-se na noite dos tempos d'El-Rei Nosso Senhor, nem sempre
designa a mesma coisa. Na acepção comum, feijoada é a iguaria
apetitosa e suculenta dos nossos antepassados, baluarte da mesa do
pobre, capricho efêmero do banquete do rico, o prato essencialmente
nacional [...] No sentido figurado, aquele vocábulo designa a
patuscada, isto é, 'uma função entre amigos feita em lugar remoto
ou pouco patente'".
Por que é
a cara do Brasil?
A
feijoada é um prato típico que evoluiu junto com a história do
povo brasileiro. A origem misturada dos povos que formaram a nossa
terra está resumida na junção dos ingredientes: a farofa feita com
farinha dos índios, a receita dos portugueses e a destreza e tempero
dos negros em juntar carne de porco e feijão preto americano e fazer
do jeito brasileiro, acolhedor e democrático, uma das refeições
mais completas do cardápio nacional, como dizia o historiador
brasileiro Luís da Câmara Cascudo.
Receita
Há uns
bons anos a feijoada é o prato principal do cardápio das quartas e
sábados nos restaurantes, ou a qualquer hora em alguma festa
familiar ou comemorativa entre amigos. Para continuar sendo uma
receita nacional, mas cada vez mais customizada ao gosto do cliente,
já existe a feijoada light somente com paio e carne seca, a feijoada
de frango e até a feijoada vegetariana com feijão preto e legumes.
Por Andrea Ariani | Yahoo! Contributor Network
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